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Mostrando postagens de julho, 2015

Uma lição de vovô

Vovô José contava que, quando a primeira igreja protestante se instalou em Cajazeiras, o bispo católico reuniu o rebanho na missa dominical e decretou a morte civil dos estranhos no gado. Que ninguém dirigisse a palavra aos hereges, fechasse qualquer negócio com eles ou lhes desse sequer o alívio de uma fruta na feira, de um copo com água, de um sorriso acanhado. Sentado na segunda cadeira e morador do casarão cruzando a rua ao lado, o coronel Peba assistia a tudo com o silêncio e a pose de quem consentia a continuidade da velha e santa aliança. Decreto baixado, missão confiada, partiram todos na paz que a ordem traz. Até que, um belo dia, dois protestantes apareceram na vendinha improvisada que os meus bisavós mantinham na cidade quando a falta d'água ameaçava deixá-los sem mantimentos no campo. Balconista, vovô entrou em guerra civil.  Se cumprisse o veto, não faria a venda; se fizesse a venda, iria pro inferno. Mas também, o que a

Questão grega

(um lampejo) Creio que foi Lima Barreto quem decretou a morte da Grécia Antiga nas letras nacionais. Talvez tenha pretendido menos ser juiz ou profeta que alfinetar Coelho Neto, para quem "Ésquilo, comparecendo perante o Areópago, teria sido inevitavelmente condenado por crime de impiedade se Amínias, seu cunhado, precipitando-se, de onde se achava..." caía bem no princípio de uma crônica do Rio de Janeiro em 1921. É verdade que a Grécia Antiga já havia caído mortinha da silva bem antes disso, quando Alcibíades visitou o desembargador X... e não suportou a simples visão de um diferente - costume. Mas não tiremos outro doce do bom Lima para dar mais uma glória ao grande Machado. Deixemo-lo estar como profeta. De uma profecia que não vingou, passado o vendaval modernista. Pois não continuamos a encontrar a Grécia Antiga em crônicas de Nelson Rodrigues, poemas de Dora Ferreira da Silva ou traduções de Carlos Alberto Nunes? E não continu

Sobre a maioridade

Agora que o atrevido processo legislativo foi instalado, podemos prever com certeza a regra: a vontade de Sua Cunha Real será feita, assim no côncavo como no convexo. Mas que a justiça também se faça: pode-se acusar Dom Eduardo de ser dissimulado, não de inovador. Em matéria de redução da maioridade, o antecedente vem de longe. Em 1840, tinha Dom Pedro de Alcântara catorze anos quando o deputado Montezuma apresentou à Câmara projeto para torná-lo maior e II na linhagem dos imperadores. O projeto foi baleado e teria sido sepultado no Senado, não fossem os fatores reais de poder: os liberais estavam determinados a apear os conservadores da Regência. Arregimentaram uma multidão às portas do Senado clamando pelo monarca, acertaram os ponteiros com os chefes militares e obtiveram um controverso "quero já" do menino. Dentro de uma semana, em meio a agitação na rua e insultos ao governo regencial como uma camarilha prostituída, o Legislativ