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Mostrando postagens de maio, 2017

Noves fora, 1 vertigem

01. Encarnei pela primeira vez no corpo de uma fêmea. Fui estuprada pelo macho-alfa, apanhei e morri de parto aos treze anos durante a segunda tentativa do bando de atravessar o Saara. 02. Reencarnei em um servo de Tebas durante a XVIII dinastia. Servi no palácio de Amenófis III e fui decapitado por um soldado de Aquenáton, por ter rejeitado o culto ao deus único. 03. No século VII a.C., fui sacerdote na corte do rei Josias em Jerusalém e compilei lendas antigas em prol da reforma monoteísta. Morri no exílio com o rei Joacaz, maldizendo o ingrato Javé. 04. Na quarta encarnação, meu espírito partiu-se ao meio. Uma banda foi eunuco durante a dinastia Han na China. A outra lutou com Aníbal por Cartago e perdeu; morreu escravo em Salerno. 05. Renasci pagão no fim do século IV e me converti ao cristianismo para tentar carreira no exército imperial. Fugi para Bizâncio após o saque de Roma e morri naufragado no mar Egeu. (uma banda) 06. Juntei-me

Notinha no calor da noite

Parece que estamos naquele momento crítico em que um dos cônjuges, cansado de relevar as traições do outro ao longo do tempo, arregala os olhos e descobre a meleca. O que as revelações de hoje provam, assim como as dos últimos (três, doze, vinte?) anos, é aquilo que se supunha: o Brasil é governado dos bastidores por esquemas criminosos. Esquemas que se reacomodam uns aos outros à medida que algum deles alcança pelo voto a liderança dos negócios. Se as acomodações se rompem antes da eleição, impeachment. E vamos nós mantendo com eles uma relação não menos ambígua de reacomodação: se o líder da vez favorece nossas convicções ou interesses, relevamos seu esquema. Assim o nosso parlamentarismo, enrustido e hipócrita. Disse há um ano e repito: sou suficientemente maquiavélico para relevar as manobras de quem preside a República com o intuito de se manter na chefia das organizações políticas. E digo isso porque penso que nossa esperança e nossa revolt

Meu querido Juscelino Kubitschek

Vovó Lozinha cultivava uma lista de defuntos queridos, pelos quais ela rezava diariamente antes de dormir. Quando eu morrer, ela dizia, a patota vai estar à minha espera no céu. Era uma lista que começava bastante doméstica, com pais, avós, tios e primos, avançava para amigos e agregados e daí ganhava a cidade e o mundo. Admitia até terceirizações. O parente de alguém muito chegado morria e o sujeito vinha pedir a vovó que rezasse pela alma do finado, pessoa boa e merecedora da graça divina. A alma logo entrava pra patota. Um artista de tevê batia as botas e uma nora ou um neto pedia a vovó que rogasse a Deus pela salvação daquela alma querida. E assim Zacarias e Mussum entraram na lista. Getúlio Vargas era o finado de número 50. Nunca esqueci isso porque, quando recitava o nome do velho, vovó completava com um graciosíssimo "os primeiros cinquenta". Como aluno e escriba de vovó, a certa altura me coube a tarefa de anotar os nomes. A