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Mostrando postagens de março, 2016

Esboço para um drama político em três atos, que seria trágico se não fosse um possível fim cômico

Primeiro ato Cena 1 A princesa Vana sucede o pai, rei Lindu, e assume o poder. Com fama de independente e temperamental, manda decapitar alguns cortesãos corruptos do pai e recebe elogios no terreiro do Paço. Cena 2 Insatisfeitos, muitos cortesãos vão reclamar ao rei Lindu, que goza de retiro no campo e na praia com ajuda de súditos. O rei os convence de que a rainha está apenas querendo se afirmar. Cena 3 A rainha Vana faz manobras arriscadas na economia e continua desagradando os cortesãos do pai. Surge insatisfação popular, a rainha tenta responder, mas os cortesãos escondem os decretos. Segundo ato Cena 1 A rainha enfrenta um plebiscito sobre sua permanência no trono. Enfraquecida pela economia e debilitada por escândalo de furto na cocheira real, pede ajuda aos cortesãos do pai que evitava. Cena 2 A rainha Vana assina lei que promete benevolência com quem delatar esquemas corruptos no Paço. É confirmada no trono, mas, em s

Lição de Manaíra

Se a experiência é o fundamento do conselho, tenho pouco conselho, já que pouca é a experiência. Mas uma tenho, se tenho alguma; e o conselho, se não é muito, há de ser alguma coisa.  Eis o conselho: que ninguém se mude para Manaíra, em João Pessoa, sem ter pelo menos um quarto de dúzia de conhecidos zelosos. Passo à experiência e deixo a vocês que me digam se passa o conselho. Voltei a viver em Manaíra pela quarta vez em nove anos.  Há por aqui como que uma voz me dizendo: vem, e fica. Juro que a ouvi dia desses naquela relaxada pracinha que estragaram com o nome de desembargador sei lá qual. Vou cortar caminho pela vez de agora. Deixo as outras três para outras três crônicas. Quando vim conhecer o apartamento, o senhorio alertou. O bairro é bom, as ruas tranqüilas, mas você sabe né, semana passada invadiram o edifício ali do outro lado da rua, estamos todos sujeitos. Primeiro amigo zeloso, de honestidade mais que comprovada. Fosse eu vovó

Não é agosto de 54, mas

Lula se equipara sempre e tanto a Getúlio que, quando ficou evidente que a Polícia Federal o encontraria de pijama para mandar má notícia, eu passei a me perguntar: só morto ele sairia do ABC? Agora, já sei e sabemos todos que ele saiu e voltou, está vivo. Como já sabia e sabíamos todos que ele é vivo e, não tendo resposta racional para os indícios de que andou em delito, foi ao teatro. No teatro, fez uso da persona que parece lhe restar: o pobre coitado que venceu na vida, chegou ao topo e agora se vê ameaçado pela elite [a que, em alguns graus, ele próprio se integrou]. Provocou as reações apaixonadas de sempre. Entre os que se revoltam contra ele, entre os que se revoltam contra os que se revoltam contra ele, entre os que se revoltam sabe-se lá contra o que mais. Sob brados retumbantes, só consigo ter uma reação. Desço ao escritório, tiro O Aleph dos degraus e leio Os teólogos, aquela jóia de brilho discreto que Borges cravou na coroa da liter