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Mostrando postagens de maio, 2018

O Brasil que eu quero

A revolução começa na sala de espera dos consultórios médicos, bem na hora que a secretária liga a tevê naquele programa mais besta que piada de doido ou português. Um paciente pede que mude pros documentários da TV Escola, outra entra na fila com o DVD de A Grande Beleza e um terceiro implora que troque a revistarada toda pela 451. Só nessa brincadeirinha, meia dúzia já se cura da dor nos trigêmeos antes mesmo da consulta, vai pro trampo mais alegre e passa o resto do dia sem baixar desgraça no zap. A revolução se espalha daí pra sala de casa, bem na hora que o canalha que berra no programa policial ou no púlpito de falso profeta começa a encher os bolsos e sugar as mentes. O filho bota um Waldir Azevedo pra tocar na vitrola, a filha abre uns bagulhos de Jorge Amado pra ler à meia sola e os pais se perguntam de onde foi que saiu tanta imaginação. Daí para os salões de baile, a revolução se alastra mais veloz que num clique e estoura bem na h

Sobre urros e cálculos

 Não sei por que falha de caráter, tenho o hábito de ler biografias. Chego a preferir uma gorda biografia em dois tomos de letras miúdas a um bem costurado livro de poesia. Anos atrás, conversei com uma historiadora profissional que fez caras e bocas quando lhe confessei a preferência. Tentei me explicar com argumentos de ordem psicanalítica. Em vão. Tudo que obtive da doutora foi uma torcida inapelável de nariz. Desde então, esse nariz troncho me aparece na mente quando tiro uma biografia da estante e estiro os pés na rede. Por esses dias mesmo, ele esteve comigo à medida que avançava com dificuldade pelas trincheiras da vida de Churchill segundo Martin Gilbert. Dois tomos, letras miúdas. Historiador profissional, Gilbert tenta reconstruir não tanto os fatos, mas a percepção que Churchill tinha de si próprio como agente dos fatos. E faz isso por meio de atas e cartas. O esforço é hercúleo, o resultado é cansativo.  Acompanhei o menino Winston car