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Mostrando postagens de maio, 2022

Pernas, bem vos quero

Semana que vem, minha segunda lembrança mais antiga completa 36 anos: era o velório de vovô Velhinho, meu bisavô, e eu, na pontinha dos pés, apoiava as mãozinhas no caixão pra ver o morto. Aí vinha algum adulto e me afastava do espetáculo fúnebre, dizendo que ali não era lugar pra criança. Mas ali era a sala da casa dos meus avós e, no meio dela, haviam colocado uma cama florida. Dentro da cama, dormia o Velhinho que, não bastasse a lembrança macabra, veio a ocupar outra: a primeira mais antiga que carrego - a dele vivo, sentado na cama, sem um perna, fitando o vazio. Não sem razão, vovô Velhinho inaugurou minhas inclinações filosóficas. Criança, eu chorava pensando que todos estávamos fadados à mesma e sufocante sina daquele homem: a vida eterna. Mas não é de metafísica que quero falar hoje com vocês. É de física mesmo, porque do lado de cá nascemos, crescemos, frutificamos, morremos. E é do lado de cá que ficam as pernas e os pirulitos. Imaginem vocês que recebi o diagnóstico de pré-