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Mostrando postagens de abril, 2016

Quatro elementos

Não vai fácil, nada fácil, a vida do cronista. Um impeachment aqui, uma ponte que cai no mar, um vice de sorte pelo caminho, uma rainha que faz aniversário acolá. Sorteio o tema, começo o texto e... Nada, nada fácil. O texto firma o pé, cruza os braços e, como menino birrento em dia de ir ao dentista, murmura e tritura, regurgita: aqui não saio, aqui ninguém me risca. Fosse isso apenas, haveria o consolo da poesia; mas, se o cronista desanda em vertigem, o poeta nem anda. Em pane. Em pane, o poeta. Canta, ó Musa, canta! Pior, muito pior que isso. O computador foi dormir e não mais ligou. E a crise no bolso, não melhor que na mente, vai deixando sem adjunto quem já se vê sem o objeto. E a cena se fecha em um riso. Mecânico e lambuzado de tinta, este riso. Riso da velha Remington Ipanema, que engole poeira num canto, e me diz: "foi você quem não quis mais". Vou até ela, faço a corte. Ela exige apenas tinta nova e flanela. Dou-lhe uma, também a s

Engano

Os leitores me perdoem por não dar outro pitaco neste momento tão grave da nação. Não, nação não, que isso cheira à pilhagem do século XIX. Neste momento tão grave do país. Melhor assim, não? Mas tenho meus motivos; dois, pra ser exato como um mais um. O primeiro é que também eu tenho meus ideais políticos, em nome dos quais ergueria bandeira e marcharia para o fim dos tempos. Mas são tão... tão... idiossincráticos - pra ter um pouco de boa vontade comigo mesmo - que só em romance ou epopéia eles merecem ser admitidos. Confessados, talvez seja a palavra mais pilhável. O outro é que gastei meus últimos insultos contra a mocinha do cartão de crédito. Não que a granada, neste tipo de guerra, perca o uso depois de atirada, mas conservo lá certas vaidades de escritor. Sem arma e armado de imaginação, calo na política, portanto. Não dou pitaco, mas tenho o pito. Qual? Ora, o que passei na mocinha do cartão de crédito. Essa história, eu lhes conto, por comp