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Mostrando postagens de novembro, 2016

Ouvidos na torneira

Se a justiça fosse mero silogismo, o mundo inteiro iria às urnas depois de amanhã para escolher quem vai ocupar os jardins da Casa Branca e os quintais alheios pelos próximos quatro anos.  Em uma democracia, diríamos nesse silogismo, o poder é exercido por representantes de quem a ele se submete, o mundo inteiro está submetido à marinha de guerra de Washington; logo... Mas a justiça é um produto precário e simbólico de conflitos, acordos e traições; não se arranca facilmente de quem tem o poder, nem se conquista por meio de qualquer trocadilho barato. Não escolheremos, pois, entre elefantes e burros, mesmo que nossas empadas e coxinhas sejam devassáveis pela Agência de Segurança Nacional e estejam ao alcance do Comando Militar Sul. Seria, entretanto, um exercício de divagação histórica (daqueles pouco recomendáveis e muito deliciosos) imaginar como seria se o planeta inteiro fosse sacolejado por um hiper Édito de Caracala. Já escuto a pergu

Segredo de elevador

Dia desses, tomei o elevador em direção a uma tarde de suplício burocrático e dois colegas entraram nele no andar seguinte. Estávamos no térreo; eu vinha do subsolo e desceria no 1º andar. - A polícia pegou os bandidos do assalto. - E o dinheiro? - Ninguém sabe, ninguém viu. - Ora ninguém sabe! E pra que serve um alicate? -  - É só me dar um cabra desse que eu arranco a verdade. E com muito gosto! O elevador estancou, a porta demorou a eternidade de cinco segundos pra abrir e eu saltei com o desespero de quem não tem encontro marcado com o alicate, mas vai encarar o expediente. Três anos atrás, visitei um museu da Inquisição. A visão daqueles instrumentos de tortura - tão inofensivos na Córdoba de 2013 quão terríveis na Sevilha de 1482 - foi das piores que já tive. A pera da angústia, o estripador de seios, a cadeira de pregos, o berço de Judas; era tudo tão cruel, ainda que feito em nome de Deus, que não se pode aceitar um reles alicate em