Para Alana Agra
Uma festa de 15 anos. Era o embalo do sábado à noite. Paletó ao Sol para tirar o mofo, gravata se espreguiçando na cama e os sapatos de festa pedindo uma visita ao engraxate no Café Aurora.
Ir ao Centro é voltar ao Centro. O Centro da loja de vovô, da Defensoria Pública na sobreloja do Lucas, onde estagiei em Direito & Miséria, o Centro da Cultura - não a de Eva Herz, a de Juarez.
"Aceita pix?" - perguntei ao engraxate, que não era mais o mesmo homem sisudo por trás de um bigode, cujo nome esqueci.
Faz anos que não vejo dinheiro e já nem lembro a senha alfanumérica de saque. "Pode deixar que a gente se resolve".
Dois pés na fila.
Fui fazer hora na livraria de minha juventude, onde desejava os livros que não podia comprar e comprava os livros que não desejava ler. A desgraçada sorte de ser um vitoriano nos trópicos.
De cara na entrada, uma epopéia de Gerardo Mello Mourão foi pedindo licença para ir comigo e cantar. "Ai flores do verde pinho / eu não quero este mar / quero o mar das parábolas e elipses".
Edição 1997.
Logo ali, o livro de Mário Faustino em que ele recomenda a Cecília Meirelles trocar a poesia pela psicanálise. Edição 2004. A mesma que folheei e não levei, porque era preciso o Processo Civil estudar.
Acolá, uns após outros, voltando dos abismos do tempo, os mesmos livros, as exatas edições e páginas que folheei. "E um dia a flor do pinho será tábua". Desejar e não querer, eis a questão.
"O mar sem fim - o mar"
Juarez na casa, papeando com um velho no sofá. Epopéia embaixo do braço, saí de fininho, como quem não quer perturbar o sono dos justos. E voltei ao asfalto, ao carro de som, ao celular para o -
"Meu patrão, carece de pix não. Um pacote de café torrado e tamo conversado."
Escambo feito, sorrisos trocados. Até mais ver. E os sapatos lustrando para o baile, de valsa e balada, trocando passos e idéias. "O teu, Homero, era o catálogo das naus." O meu é o dos tempos.
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