À beira de 2024, fiz uma lista das pendências de 2023. Dois dedos de prosa com o Bei de Túnis, três palavrinhas com as quatro sobreviventes de Canudos e cinco voltas ao mundo em seis dias.
Eis o começo da lista.
Mas nada se compara ao espanto que eu mesmo sofri diante da lista dos livros que deixei de ler, embora a oportunidade me tenha sido oferecida por três livreiros antigos de Patos, Sousa e Piancó.
Relacionar os livros talvez seja uma experiência melhor que lê-los, assim como praticar os pecados capitais ou transgredir os Dez Mandamentos é mais prazeroso que ler e reler o sacro elenco.
Assim sendo, em 2023, deixei de ler:
1. Um manuscrito andaluz do século XII, contendo a tradução para o árabe do livro de Aristóteles sobre a Comédia, acrescido de comentário profético sobre certo palhaço de bigode e bengala.
2. A autobiografia autêntica de Zé Limeira, editada pelos irmãos Garnier no Rio de Janeiro em 1789, com apresentação de Bráulio Tavares e tradução para o russo medieval por Astier Basílio.
3. Uma cópia em papel das Mutações de Zhou, datada de antes de sua integração aos Cinco Clássicos confucianos (século II AEC), contendo uma glosa de Mêncio que inspirou Sidarta em Rajagaha.
4. Uma edição tardia do Rig Veda em sânscrito clássico, furtada por missionários jesuítas em Calcutá no século XVIII e encontrada pela professora Aurora Bernardini no Sebo do Messias (SP) em 1988.
5. Uma tabuinha de argila contendo sete conselhos inéditos do Popol Vuh, anterior à redação do manuscrito original em alfabeto latino por Dom Genival Saraiva, bispo emérito de Palmares (PE).
6. Uma edição fac simile dos comentários escritos por Jesus de Nazaré na areia de Ibiza perante a mulher adúltera, antes das intervenções dos copistas em Lucas (séc. I EC) e João (séc. X EC).
7. Um tablet contendo IA programada em trezentas e sessenta e seis línguas mortas, capaz de reescrever e traduzir todas as peças de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes à velocidade de uma tragédia/dia.
Outros três livros raros me foram ofertados, desta vez por Ronaldo do Cata Livros. Mas estes, eu comprei. Guardados em um cofre no Kilimanjaro, contêm os primeiros registros humanos em texto.
Convém não lê-los, segundo conselho de Frans de Waal, primatologista holandês, que se retirou para uma hospício beneditino na Patagônia depois de decodificar as primeiras frases.
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